Eficácia da vacina sublingual para rinite alérgica

Por: Crislayne Plytiuk

A rinite alérgica é uma doença de alta prevalência em nosso meio. Em um estudo multicêntrico realizado no Brasil na população pediátrica (Estudo ISAAC), viu-se que na faixa etária de 13 a 14 anos, a prevalência da rinite foi de aproximadamente 30%1.  Os sintomas incluem obstrução nasal, coriza, espirros e prurido nasal, ocular ou de orofaringe. O diagnóstico adequado permite um tratamento satisfatório para o paciente. Para isso, necessitamos de uma anamnese ampla associada a testes alérgicos cutâneos de qualidade. Uma vez constatados os alérgenos relacionados aos sintomas no paciente, podemos lançar mão de diversos tratamentos, inclusive a imunoterapia alérgeno-específica (IT).

A introdução da imunoterapia específica para alérgenos indicada e realizada por médico qualificado é um tratamento eficaz e seguro para asma e rinite alérgica. De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai)2, o efeito da IT pode interferir no curso natural da doença alérgica e em alguns casos promover sua cura.

Esse tipo de tratamento apresenta benefícios únicos a longo prazo, como, por exemplo a manutenção da eficácia clínica após a sua descontinuação, a prevenção de novas sensibilizações, redução dos sintomas, diminuição do uso de medicamentos e também, a prevenção de asma em pacientes com rinite alérgica.

Atualmente, após mais de 100 anos de experiência, a imunoterapia é recomendada em diretrizes nacionais e internacionais como único tratamento específico para este distúrbio em crianças e adultos, com potencial curativo e preventivo de asma3. Sua eficácia foi avaliada em estudos de metanálises e demonstrada para alérgenos inaláveis. Contudo, para o sucesso da IT, devemos estabelecer o diagnóstico da rinite, sua gravidade e etiologia, por métodos clínicos e laboratoriais, com a detecção de anticorpos IgE específicos4.

A imunoterapia promove aumento na produção de interleucina 10 (IL-10), que tem importante ação moduladora nas respostas Th1/Th2. Em síntese, ocorre redução na produção de citocinas tipo Th2, entre elas a IL-4, IL-5 e IL-13, que estimulam a produção de IgE, ao mesmo tempo em que ocorre um aumento nos níveis de citocinas do tipo Th1, entre elas o interferon-gama7,8, levando ao aumento na produção de IgG5.

Visando o sucesso no tratamento, a vacina deve possuir extratos padronizados, contendo alérgenos em quantidades adequadas. Além disso, a aplicação deve ser realizada em doses efetivas já estabelecidas6,7.

As vacinas podem ser administradas por via subcutânea, epicutânea, oral, nasal, brônquica ou sublingual8. A administração subcutânea de alérgenos (ITSC) é uma das vias de aplicação mais utilizadas. Porém, a inconveniência das visitas frequentes para aplicação das injeções, o desconforto associado e a possibilidade de reações adversas conduziram à investigação de vias não injetáveis9. Atualmente, a via sublingual  tem se destacado como alternativa viável à ITSC. Estudos afirmam a maior segurança da imunoterapia sublingual (ITSL) se comparada à ITSC e, além disso, uma eficácia aumentada da ITSL, uma vez que, por diminuir o número de visitas às clínicas de alergia para a aplicação subcutânea, aumenta a comodidade e a adesão ao tratamento e, consequentemente, a sua eficácia9,10,11.

 

Drª Renata Vecentin Becker
CRM PR 30834 – RQE 20426
Centro de Rinite e Alergia do Hospital IPO
(41) 3093 9796 – (41) 3314 1500

 

 


Referências bibliográficas

  1. Solé D, Camelo-Nunes IC, Wandalsen GF, Rosário Filho NA, Naspitz CK; Brazilian ISAAC’s Group. Prevalence of rhinitis among Brazilian schoolchildren: ISAAC phase 3 results. Rhinology 2007;45:122-8.
  2. Grupo de Assessoria de Imunomodulação. Eficácia e segurança da imunoterapia com alérgenos – 100 anos de certificação. Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 34. N° 2, 2011
  3. Allergic Rhinitis and its Impact on Asthma (ARIA) guidelines: 2010 Revision. J Allergy Clin Immunol 2010;126:466-76

4.Cox L, Nelson H, Lockey R, Calabria C, Chacko T, Finegold I, et al. Allergen immunotherapy: a practice parameter third update. J Allergy Clin Immunol 2011;127:S1-55.

  1. Bousquet J, Locckey RF, Malling HJ. Imunoterapia com alérgenos: vacinas terapêuticas para doenças alérgicas. Rev. bras. Alerg. Imunopatol. 2000;23:3-37.
  2. Scadding GK, Durham SR, Mirakian R, Jones NS, Leech SC, Farooque S, et al. BSACI (British Society for Allergy and Clinical Immunology) guidelines for the management of allergic and nonallergic rhinitis. Clin Exp Allergy 2008; 38: 19-42.
  3. II Consenso Brasileiro sobre Rinites. Rev bras alerg imunopatol 2006; 29:32-58.
  4. Agostinis F, Forti S, Di Berardino F. Grass transcutaneous immunotherapy in children with seasonal rhinoconjunctivitis. Allergy 2010; 65:410-1.
  5. Senti GA, Vavricka B, Erdmann I, Diaz MI, Markus R, McCormack SJ, et al. Intralymphatic allergen administration renders specific immunotherapy faster. PNAS 2008;105:17908-12.
  6. Sub-lingual immunotherapy: WAO Position Paper. Allergy 2009;64(91):1-59.
  7. Larché M. Update on the current status of peptide immunotherapy. J Allergy Clin Immunol 2007;119: 906-9.

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